segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Cemitérios e Meio Ambiente - Prof.Dr.Pacheco



Cemitérios e Meio Ambiente

Universidade de São Paulo
Instituto de Geociências
Como os cemitérios podem contaminar as águas subterrâneas
Coordenador: Prof. Dr. Alberto Pacheco (apacheco [@] ana.gov.br)
Pesquisador: Bolivar A. Matos, PhD (bolivar [@] ana.gov.br)
Os cemitérios podem ser fonte geradora de impactos ambientais. A localização e operação inadequadas de necrópoles em meios urbanos podem provocar a contaminação de mananciais hídricos por microrganismos que proliferam no processo de decomposição dos corpos. Se o aqüífero freático for contaminado na área interna do cemitério, esta contaminação poderá fluir para regiões próximas, aumentando o risco de saúde nas pessoas que venham a utilizar desta água captada através de poços rasos.A figura mostra o extravasamento do necrochorume em um cemitério de São Paulo
Este trabalho avaliou a ocorrência e o transporte de microrganismos no aqüífero freático do cemitério de Vila Nova Cachoeirinha, localizado em terrenos pré-cambrianos, zona norte do município de São Paulo.
A metodologia aplicada foi dividida em etapas de laboratório e de campo. No laboratório, foram montadas colunas de solo do cemitério. Traçadores químico e biológico foram injetados nas colunas e o seu fluxo monitorado no efluente. Um modelo numérico foi usado para simular o transporte dos traçadores nas colunas. Em campo, foram realizadas investigações a fim de caracterizar o aqüífero freático. O monitoramento da qualidade das águas foi realizado para estudar a ocorrência e o transporte de elementos químicos, bactérias e vírus nas águas subterrâneas.
No cemitério, o embasamento está à cerca de 9,0 m de profundidade na cota mais baixa e 20,5 m no topo. O nível freático encontra-se entre 4 e mais de 16 m. O solo do cemitério é formado pelo material de alteração das rochas graníticas, de caráter predominantemente argiloso (~43% de argila), pH =5,0, matéria orgânica entre 0,7 e 4,2% e capacidade de troca de cátions entre 10,2 e 109,0 mmolc/kg. A condutividade hidráulica do aqüífero varia de 2,90 x 10-8 a 8,41 x 10-5 m/s. O gradiente hidráulico na porção oeste do cemitério é de aproximadamente 0,07 m/m; considerando o meio homogêneo e isotrópico e uma porosidade efetiva de 2%, a velocidade linear média foi estimada em 8 cm/dia.
As amostras de água do aqüífero freático do cemitério de Vila Nova Cachoeirinha apresentaram, principalmente, bactérias heterotróficas (53 x 103 UFC/mL), bactérias proteolíticas (31 NMP/100 mL) e clostrídios sulfito-redutores (45 NMP/100 mL). Também foram encontrados enterovírus e adenovírus nas amostras. As principais fontes de contaminação das águas subterrâneas no cemitério são as sepulturas com menos de um ano, localizadas nas cotas mais baixas, próximas ao nível freático. Nestes locais, é maior a ocorrência de bactérias em geral. Há um grande consumo do oxigênio existente nas águas. As sepulturas ainda provocam um acréscimo na quantidade de sais minerais, aumentando a condutividade elétrica destas águas. Parece haver um aumento na concentração dos íons maiores bicarbonato, cloreto, sódio e cálcio, e dos metais ferro, alumínio, chumbo e zinco nas águas próximas de sepulturas.
As bactérias são transportadas poucos metros, diminuindo em concentração com o aumento da distância à fonte de contaminação. Os vírus parecem ter uma mobilidade maior que as bactérias, podendo atingir algumas dezenas de metros no aqüífero freático do cemitério de Vila Nova Cachoeirinha. Os vírus foram transportados, no mínimo, 3,2 m na zona não saturada até alcançar o aqüífero.
Este projeto teve a colaboração do Laboratório de Microbiologia Ambiental do Instituto de Ciências Biomédicas e do Centro de Pesquisas de Águas Subterrâneas (CEPAS) da Universidade de São Paulo. O projeto foi financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
Informações adicionais podem ser obtidas na tese de doutoramento de Bolivar Antunes Matos intitulada “Avaliação da ocorrência e do transporte de microrganismos no aqüífero freático do cemitério de Vila Nova Cachoeirinha, município de São Paulo” defendida no dia 30 de maio de 2001 no Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo. Exemplares disponíveis na biblioteca do Instituto de Geociências da USP. A tese pode ser inteiramente copiada a partir do portal Saber.
Outros sites sobre o assunto:

· Critério de seleção de locais para implantação de cemitérios na África do Sul
· Impacto ambiental provocado por cemitérios na Austrália

Mais informações:
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Universidade de São Paulo. Instituto de Geociências. Departamento de Geologia Sedimentar e Ambiental. Rua do Lago, 562. Cidade Universitária. 05508-900. São Paulo-SP, Brasil. Fone: 55-11-3091.4239. Fax: 55-11-3091.4207.
Página desenvolvida por Bolivar A. Matos
Atualizada em 23 novembro de 2006.

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